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Reprodução de artigo publicado no Jornal Vértice - Informativo do CREA/MG
Toca a campainha. Abrem-se, as cortina. É hora do artista entrar em cena para emocionar o público e arrematar dias e noites de trabalho nos bastidores. "Minha profissão viabiliza a conquista da emoção. O ser humano precisa desse mundo fantástico para seu equilíbrio emocional. Criamos um estado de espírito para a conseqüente resposta emocional do espectador", orgulha-se o arquiteto cênico e cenógrafo Raul Belém Machado.
O público pode não saber, mas quando aplaude um espetáculo também está consagrando toda uma equipe que envolve arquitetos, engenheiros e técnicos de diversas áreas. As funções vão desde a cenografia até a engenharia mecânica, passando pela luminotécnica, a sonotécnica, e até mesmo o cálculo estrutural, entre outras. Para Raul Belém. a ciência e a tecnologia vêm a serviço das artes. "A relação com a. produção artística implica num uso constante de energias carregadas de emoção", afirma. Mas a engenharia civil,. Ivana Aguiar Ribeiro, o papel desses profissionais inclui a imposição de limites. Ela prestou consultoria para a parte elétrica do 1º Festival Mundial de Circo do Brasil, que aconteceu em setembro deste ano, em Belo Horizonte. "Quando os organizadores contratam um engenheiro, transferem responsabilidade. A partir daí, nós temos o compromisso de dizer o que pode e o que não se pode fazer", explica. Um ponto marcante das experiências em eventos artísticos, segundo Ivana Aguiar, é a necessidade de grande agilidade. "A rapidez nesse tipo de trabalho foge do padrão. O festival teve um prazo de implementação curto e tínhamos o compromisso para manutenção dia e noite", diz.
No mais reconhecido grupo de teatro mineiro, o Galpão, o envolvimento dos profissionais da área técnica é tanto que, muitas vezes, eles apresentam soluções que contribuem para a criação artística. O ator Beto Franco conta que para a peça ''Um MoIiére imaginário" o grupo havia pensado num tipo de palco muito mais complicado do que o proposto pela equipe de estrutura metálica. "Eles bolaram um palquinho que nos deu até opções de trucagem, com soluções que ajudaram na elaboração do espetáculo", explica. Beto Franco, que cursou até o 8º período de engenharia e acabou abandonando o curso para se dedicar integralmente ao teatro, revela que o grupo conta com um coordenador técnico formado em eletrônica e estruturas. "Tem que haver um cara formado para pensar em questões como o posicionamento do espetáculo para maior conforto do público e a segurança", ressalta. Mas não é fácil encontrar arquitetos e engenheiros especializados em atividades artísticas.
Na área de cenografia e cenotécnica, por exemplo, não existem disciplinas nas escolas de arquitetura, nem pós-graduação especializadas no tema, em Belo Horizonte. "Esse conhecimento é passado de pai para filho, porque também não tem bibliografia em língua portuguesa. Só agora há possibilidade de tradução", afirma Raul Belém. O arquiteto é consultor da Organização dos Estados Americanos (OEA) para cenotécnica e tem trabalhado na organização, em português e espanhol, de temas e técnicas da área.
O diretor do Grupo Giramundo, Álvaro Apocalypse também acha que deveria haver uma maior aproximação entre a arquitetura e as artes cênicas. Mas ele considera que, além da criação de disciplinas específicas para teatros e espaços públicos nas faculdades, é importante que haja urna mudança cultural entre os empreendedores.