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Artigo: História do Teatro

Extraído do livro 'Edifício' - Edgar Albuquerque Graeff

Cadernos Brasileiros de Arquitetura - Projeto Editores Associados Ltda

Em Creta, nas ruínas do palácio de Cnossos (c. 2000 a.C.), existem vestígios de duas grandes escadas que se cortam em ângulo reto e que parecem ter pertencido a um teatro - os degraus deviam servir de arquibancada e podiam acomodar cerca de quinhentos espectadores. Também nas ruínas do primeiro palácio de Festo (séc. XX a.C.) encontram-se vestígios de uma área teatral. Áreas teatrais foram encontradas ainda na ágora de Gurnia (séculos XIV-XIII a.C.) e na ágora de Lató (séculos VII e VI aO.).


Entre os sécs. V e IV a.C. começam a ser construídos, na Grécia, os teatros em pedra, o que revela a importância adquirida por esse tipo de edifício, antes construído em madeira, O teatro dessa época ainda é um edifício de caráter religioso, vinculado sempre a algum santuário. Em Atenas, está relacionado com o templo de Dionisio. Em Epidauro, com o templo de Asclépio: em Delfos, com o de ApoIo.


A construção de enormes teatros de pedra. com capacidade para acomodar toda a população da cidade, constituiu a primeira manifestação em escala grandiosa da arquitetura grega. O teatro de Epidauro, com suas 55 fileiras de assentos em arquibancadas, podia conter 14 mil espectadores. Como outros teatros gregos, o de Epidauro está construído no flanco de uma colina. É um dos que se mantém mais bem conservados. O teatro de Megalópolis tinha acomodação para 20 mil espectadores. O elemento primitivo do teatro era a orquestra, espaço circular em cujo centro ficava o altar de Dionisio. A orquestra estava reservada para as danças rituais e as evoluções do coro.


No séc. VI, o coro ocupou um só lado do espaço circular: com isso o teatro assumiu a forma de um semicírculo, à volta do qual foram colocados bancos de madeira para os espectadores. O teatro grego chega a definir perfeitamente os três elementos básicos desse tipo de edifício: a platéia, para os espectadores; a cena, para os atores; e a orquestra, para o coro. A produção de teatros pelos gregos foi enorme, pois cada cidade contava com um desses edifícios, no mínimo. São mais conhecidos: o teatro de Dionísio, em Atenas (séc. V aC.) o teatro de Siracusa (540. V aC); o teatro de Epidauro projetado e construído por Policeto o Jovem, entre 370 e 360 a.C. Do teatro romano anterior ao período imperial ficaram três excelentes exemplares em Pompéia: os edifícios destinados aos espetáculos eram o teatro trágico (séc. II a.C.), com uma cena profunda precedida de ranhuras para o pano de boca; o teatro cômico, de dimensões mais reduzidas e coberto por um telhado; e o anfiteatro. O anfiteatro está construído sobre uma planta elíptica, cujo eixo maior mede 135,70 m, tendo o eixo menor 104 m; continha 20 mil lugares numerados. O teatro romano mantém inicialmente as características básicas do teatro grego, mas aos poucos ocorrem transformações ditadas por mudanças na natureza das representações. A abolição do coro mantém mais longe do palco o espectador. O lugar da orquestra passa a ser reservado para os espectadores de maior categoria social, e o anfiteatro todo acaba sendo organizado por meio de circulações radiais e anulares, segundo uma hierarquia precisa, com as zonas de bancos decrescendo de importância de baixo para o alto.


Enquanto no teatro grego o ponto nodal da composição arquitetônica se situava na cena, no teatro romano ele se desloca para a platéia; na maior parte dos casos, a platéia repleta de espectadores transforma-se, também ela, em espetáculo. Ao lado da cena, no largo espaço destinado ao ingresso lateral, aparece a tribuna reservada ao magistrado que presidia a representação.


A Roma imperial dispunha de numerosos edifícios construídos especialmente para espetáculos- o estádio de Domiciano, o circo Flaminiano. o circo máximo, o odeão de Domiciano, o teatro de Marcelo e o anfiteatro de Flaviano, o célebre Coliseu. Do circo Máximo, possivelmente o mais grandioso edifício para espetáculos jamais construído, só sobraram as descrições. Suas arquibancadas, desenvolvendo-se em três pavimentos, comportavam, no tempo de Trajano, 385 mil espectadores


De todos os teatros da Roma imperial só resta o Coliseu, cuja construção foi iniciada por Vespasiano e concluída por Tito, no ano 80. Sua planta elíptica apresenta 188 m no eixo maior e 156 m no eixo menor, e sua altura é de 49 m, a altura de um edifício moderno de 16 pavimentos. As arquibancadas, dispostas em três pavimentos, são sustentadas por uma série de abóbadas, cujos arcos permitem a livre circulação pelas galerias; nestas se acomodavam 87 mil espectadores. Sobre a arena, que media 60 x 59 m, elevava-se uma grande plataforma - o pódio - provida de parapeito, onde se encontravam os bancos de honra.


Outros teatros romanos de que restam ruínas são: o teatro de Pérgamo, na Ásia Menor (séc. I-II); o odeão de Herodes Attico, em Atenas (séc. II): o teatro de Siracusa (séc. IV-III aC.) de reconstrução romana; o teatro de Taormina, grego na origem, mas de reconstrução romana; o teatro de Marcelo, em Roma (ano II dc.): o anfiteatro de Verona (290) e o teatro de Aspendos, com a sala reduzida a um semicírculo.


As manifestações teatrais da Idade Média foram poucas e de acentuado caráter religioso. Em geral as representações eram realizadas nos adros das catedrais e das igrejas mais importantes. Não foram construídos edifícios especiais dignos de menção.


Os edifícios para espetáculos construídos na época da Renascença tinham, até fins do séc. XV, caráter provisório. A primeira obra do gênero edificada com caráter de estabilidade foi o teatro da Academia Olímpica de Vicenza, cuja construção é iniciada em 1580 por Andrea Paíladio e concluída por Vincenzo Scamozzi. A disposição dos assentos em arquibancadas semi-elípticas é a mesma dos antigos teatros gregos e romanos, O conjunto é todo coberto e sobre a cena foram construídos cenários permanentes com falsas perspectivas. O teatro de Palíadio inspirou por muitos séculos os teatros construídos em quase todo o mundo. Da Renascença italiana são, ainda, o teatro de Sabbioneta, construído por Scamozzi em 1558, e o grande teatro Farnese, de Parma (1618), devido a Giovanni Battista Aleotti, com 30m de profundidade e capacidade para 4 mil pessoas.


Notáveis são ainda alguns teatros construídos nos séculos seguintes, como o teatro Comunal, de Bolonha, obra do arquiteto Antonio Gaili Bibiena (1700-1774); o teatro San Carlo, de Nápoles (1739), reformado em 1810-1812


por Antonio Niccolino: o teatro alia Scala, de Milão (1778), devido a Giuseppe Piermarini; o teatro de Berlim, projetado por Friedrich Schinkel, em estilo neoclássico de grande pureza, e construído entre 1818 e 1831.


A Opera de Paris (1862-1875) foi projetada por Charles Carnier no estilo eclético do II Império. É talvez o mais ornamentado monumento de Paris e sua complicada decoração lembra sua finalidade: um cenário armado para a diversão dos ricos. Ainda do séc. XIX são o Opernhaus de Viena (1869), criado pelos arquitetos von der Nüli e Sickardsburg, e o notável Auditorium de Chicago (1886), projetado por Louis Sullivan, precursor da renovação da arquitetura.


Na mesma época, enquanto por toda parte se procurava imitar a desvitalizada arquitetura da Opera de Paris, Gottfried Semper construiu o Burgtheater em Viena (1874-1888), em que se revela seu interesse pelos problemas técnicos da construção, inspirando-se no espírito da sólida arquitetura renascentista.


No curso do séc. XX, enquanto são construídos inúmeros edifícios para espetáculos, inspirados na Ópera de Paris ou em prédios dos mais curiosos e esquisitos estilos, algumas obras são realizadas com espírito efetivamente renovador, refletindo a fértil inquietude que reina no teatro propriamente dito. Dentre os edifícios realizados com esse espírito de pesquisa, cumpre destacar, sem pretender que as relações desejáveis tenham sido alcançadas: o teatro dos Champs-Elysées, de Auguste Perret, em Paris (1913); o Grosses Schauspielhaus, de Hans Pölzig, em Berlim (1919): o teatro ao ar livre de Red Rocks, do arquiteto Burnham Hoyt, em Colorado (1942).


Do período iniciado após a segunda guerra mundial são alguns edifícios de admirável arquitetura, destinados a teatros ou atividades aparentadas: o Royal Festival Hall, projetado pelo Serviço de Arquitetura do London County Council, em Londres (1951); o teatro Verde. na ilha de San Giorgio, em Veneza (1954), projetado por Luigi Vietti e Angelo Scattolin; o Teatro de los Insurgentes, no México D.F. (1952), projeto de Alejandro Prieto; o teatro experimental da universidade de Miami (1950), criação dos arquitetos Robert M. Little e Marion I. Manlei; o centro cultural de Turku, de R. V. Luukhonen, em Helsink (1952); o teatro Nacional de Mannheim (1955-1957), do arquiteto Gerhard Weber; o centro cultural do Wellesley College, em Massachusetts, de Paul Rudolph (1955-1959); o cineteatro Majestoso, de Ricardo Morandi, em Roma (1957; o Auditorium Sankei Kaikan, dos arquitetos T. Ogawa, J. Nishimura, I. Nakajima e N. Hida, em Tóquio (1955); o Krosge Auditorium. em Cambridge. Massachusetts (1955), projetado por Feno Saarinen; o Auditorium da Cidade Universitária de Caracas (1952-1953), do arquiteto Carlos Raúl Villanueva: o centro de arte dramática e conservatório de música, do Orange Coast College, projetado por Richard Neutra e Robert E. Alexander; o centro de arte dramática, do colégio Sarah Lawrence, de Marcel Breuer, em Bronxville (1952).




Bibliografia:


1. Alos, Roberto, Architetture per lo spettacolo, Milão, 1958.

2. Alos, Roberto, Teatri e auditori, Milão 1972.

3. Bowman, Ned AIIan et alii, Planning for the theatre, s. L, 1965.

4. Leblanc, Louis e Leblanc, Georges, Traité d' aménageiment dos salles de spectacles, Paris, 1950.

5. Ramelli, Antonio Cassi, Editici per gli spettacoli, Milão, 1956.